quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A estória de como ingressei na cena cultural independente

autor do blog fala sobre a produção de festivais, da promoção de bandas independentes, carreia e envolvimento com festivais independentes, rede @foradoeixo e @enxamecoletivo

Ano passado, em setembro, a estudante de jornalismo Jéssica Megumi Nakamura, da Unesp-Bauru, enviou-me a entrevista abaixo para um trabalho (e me poupou de milhões de temas para este blog). São perguntas frequentes sobre o trabalho de produção cultural, que começou a ser desenvolvido em 2009 em Londrina, no Festival Demo Sul e caminhou para a entrada no Fora do Eixo e a fundação do Enxame Coletivo, no finzinho de 2009.


1. Como você começou a trabalhar com música? Começou como músico e depois virou produtor de festivais ou o contrário?
Comecei na faculdade, na Unesp Bauru mesmo, quando formatei um programa de rock, o On the Rock, na Web Rádio Unesp Virtual, que naquele ano, em 2005, atendia ainda por "Rádio Mundo Perdido". Participei de vários outros programas musicais também nesta rádio durante os anos seguintes. Logo que me graduei, no início de 2009, comecei a estagiar como assessor de imprensa no @festivaldemosul (Londrina / PR), um dos grandes festivais independentes nacionais e a partir daí não parei mais.

2. Como se deu a "transição" de uma função para a outra? Você se considera mais o quê?
Na verdade a mudança não foi de músico para produtor, foi de assessor de imprensa para produtor cultural. Também sou músico, mas isso veio ainda depois rs. A mudança então, aconteceu naturalmente com meu envolvimento com o cenário independente nacional. Conheci e passei a fazer parte da maior rede de cultura livre do País - o Circuito Fora do Eixo - circulei por vários festivais em várias partes do País (Jambolada - Uberlândia, Goiânia Noise, Festival Contato - São Carlos, Macondo Circus - Sta. Maria) e decidi que gostaria de começar uma cena do zero. Como curtia bastante morar em Bauru, a cidade já mostrava indícios de participar intensamente da rede Fora do Eixo, então resolvi apostar e investir na construção do projeto desde o primeiro tijolo.

3. Em sua posição profissional atual, como você vê o cenário musical independente nos dias de hoje no Brasil?
Em expansão plena. Há várias oportunidades e ferramentas para artistas que se comprometem a trabalhar de maneira séria com o que fazem. Há muitas chances por aí, diversas plataformas e cenas. Claro que não é fácil - nunca foi - precisa de investimento inicial, foco e às vezes levar a banda, como um projeto paralelo. Se o objetivo é viver com o trabalho autoral, é importante desenvolver outros maneiras de captação de verba ou oferecer serviços para somar ao orçamento do músico, por exemplo.
Por outro lado, através de editais, muitas parcerias e trabalhos com iniciativa privada, é possível a médio prazo desenvolver um trabalho com produção cultural e viver com este estilo de vida. Se a ideia é se envolver profissionalmente com o setor, se alimentar de cultura, ter autonomia para trabalhar e mais, se divertir com o trabalho que realiza, esse pode ser um caminho.

4. Quais você acredita serem os principais pontos convergentes e divergentes entre o cenário nacional e o internacional?
Olha, não faço muita ideia, teria que conhecer mais o cenário internacional. Mas pelo que conheci deste cenário, em palestras e pessoas que estiveram no Goiânia Noise 2009, o trabalho lá é muito parecido, porém, com oportunidades muito maiores, mais grana, mais respeito e pelo setor ser mais desenvolvido que no Brasil.Talvez este seja o ponto principal.
Mas lá fora por exemplo, não existe uma rede integrada como o FDE, (nem na Am. Latina) de trocas e de trabalhos afins em torno de uma cena.

5. Como funcionam os festivais, em sua totalidade, desde o início do processo (de onde vem o investimento, etc)?
O primeiro de tudo é o conceito do festival: é só de música? É focado na música, mas passa por outras artes? é um festival de cultura e tecnologia? A partir do conceito e da descrição do festival, você passa para a próxima etapa, que é a viablização deste evento, que é a etapa mais trabalhosa. Aqui, prefiro exemplificar.
Em Bauru, quando definimos o CANJA, começamos a trabalhar com várias ferramentas de tecnologia da produção de um festival, que encontrarmos no Fora do Eixo: planilhas, contatos, equipamentos, planejamento, modelos de cartas, de ofícios etc. Além disso, diversas dúvidas que surgiram durante a produção, foram sanadas com um intenso diálogo com agentes do FDE, principalmente o pessoal do Massa Coletiva.

Durante este meio tempo entramos em contato com órgãoes públicos locais e iniciativa privada a fim de conseguir verba e apoio para realização do festival. E assim, conseguimos captar recursos em espécie ou em produtos. (Ainda este ano publicaremos um blog com as tecnologias que usamos para realizar os eventos, que estará no www.foradoeixo.org/enxametec)
Em seguidam fizemos a curadoria do CANJA e fomos formatando, pegando ideias de grandes festivais independentes e aplicando, como a oficina de "redução do impacto ambiental em festivais culturais", o CANJA Verde e o projeto CANJA Colaborativa.
Bom e aí vem uma série de tarefas diárias né, produzir um festival do tamanho do CANJA demanda muitos esforços, é tipo acordar, trabalhar 3 períodos inteiros e às vezes ficar no computador boa parte do seu dia. Nas últimas três semanadas que antecederam o festival foi assim. Depois, você nem vê o evento, ele te atropela (no sentido de que é muito intenso, você precisa trabalhar e conversar com amigos, com os artistas, público etc), passa e quando tu percebe ele acabou e ainda resta uma porção de atividades.


6. Qual o papel dos festivais no cenário independente atual?
Provavelmente caminhar para um novo formato de produção musical (e de outras áreas também), do desenvolvimento de auto-gestão com produção cultural e gerenciamento de carreiras, além do fomento de um cenário completamente original, consciente e transparente.

7. Como começou e como funciona o "Enxame Coletivo", e qual a sua relação com o circuito "Fora do Eixo"?
Começo pela pergunta final. Conheci o @foradoeixo em 2009, quando comecei a trabalhar com o Festival Demo Sul. Lá, tive acesso e passei a colaborar com um ponto do FDE da região Sul, o Coletivo ALONA. Ali, comecei a visualizar o que era a rede, os festivais que faziam parte e também o cenário independente como um todo. Nesta época passei a me alimentar desta cena e pesquisar sobre, conhecendo blogs - o que me levou, inclusive, a criar um para reverberar a cena, o Over Música. Mas ainda era tudo muito nebuloso e nada palpável, eu sacava as bandas, os sons, mas não tinha ideia de como eram esses eventos.
E aí precisei ir conhecer de perto aquilo que eu via da minha casa, pela internet. Então visitei festivais que me fizeram cair a ficha de que se tratava de um movimento extremamente sincero, original e tocado pela juventude, o que era ainda melhor. Então viajei primeiramente para São Carlos, pro 3º Festival Contato, depois Jambolada, em Uberlândia, Goiânia Noise e finalmente Macondo Circus, em Sta. Maria (RS), cobrindo todos eles para o Over Música.
Especificamente nos festivais Contato e Jambolada tomei conhecimento da imensidão e complexidade do que estava sendo construído - em termos de Abrafin e CFE - há tão pouco tempo.E na real eu só fui ao Jambolada, porque estive em Sanca, no Contato.
Em dezembro, no Macondo Circus, o laço apertou. Meu trabalho como assessor e minhas coberturas já davam algum resultado e Londrina ficava cada vez mais distante em termos pessoais, ideais e financeiros.
Paralelo aos festivais, eu sempre estava em Bauru, minha casa né e comecei a orientar, falar a respeito da rede CFE e do trabalho dos coletivos, justamente por ser um entusiasta. Então, recebi uma proposta desse grupo local e decidi apostar todas as fichas pra 2010... nessas eu já estava bem envolvido com o CFE.

Desde 10 de janeiro - quando fizemos a primeira reunião de organização do Enxame Coletivo - trabalho quase diariamente nisso e os resultados estão aí. Muita gente disse que não seria possível, mas estamos mostrando que é viável, desenvolvendo um trabalho estamos colhendo o que foi plantado com muita dedicação e carinho.
O Enxame, nesta perspectiva, nasce completamente conectado ao CFE, seguindo suas diretrizes, trocando conhecimento, buscando experiências e suporte. Afinal, tudo isso que desenvolvemos vem da inteligência coletiva e aplicada dos coletivos nacionais, como o Massa Coletiva trouxe a Bauru. Ninguém aqui tinha noção de como promover um trabalho com a arte independente, mas em poucos meses conseguimos este know how. Já fomos em 12 pessoas e hoje trabalhamos em nove: duas são de dedicação exclusiva (eu e a Isis) e o restante tem diferentes graus de envolvimento. Com este contingente temos núcleos específicos de trabalho: planejamento, comunicação, eventos, audiovisual, sonorização e etc. E é a partir deles e do nosso conhecimento que gerenciamos os projetos.

8. Quais você acredita serem as melhores formas de inserção no mercado fonográfico atualmente? Por quê?
Acho bacana dar um exemplo, ao invés de opinar sobre o tema, até porque seria pura divagação rs. Gosto do exemplo da banda The Name. Primeiro, você precisa ser bom (no sentido de ser bem executado, ter uma estética, pensar no palco, nas inserções, em como vai lançar e divulgar sua música), porque as pessoas têm ouvido apurado, né? E o The Name tem tudo isso. Eles lançaram trabalhos coesos, foi uma linha crescente mesmo e sabiam onde queriam chegar. Eles queriam se apresentar fora do País e não demorou a conseguirem.
A banda tem uma estratégia também de manter e dialogar com uma base de fãs através da internet: twitter, promoções, emails, entre outros, tudo muito frequente. Isso agrega demais, porque é o cara que vai pagar pra ir no teu show, acompanhar a carreira da banda, comprar o disco, a camiseta no fim do show... dialogar com as pessoas que são da sua cidade é fácil, mas e nos lugares que você vai se apresentar uma vez por ano, #comofaz?
Além disso tudo, os caras são muito legais, humildes pra caramba e profissionais, o que é fundamental para empatia dos produtores.


9. De certa forma, a internet ajudou a democratizar a música independente, mas isso também causa a propagação de muito material de baixa qualidade. Você acha que a internet ajuda ou atrapalha? Como?

Não tenho dúvidas: ajuda, com certeza. O que é de baixa qualidade não vai emplacar, sabe? Os produtores não vão convidar a banda mais de uma vez, entende?
Por outro lado, a internet te dá muitas possibilidades, como as que eu citei no decorrer da entrevista. O Rafael Castro mesmo ou a banda Pata de Elefante ou ainda o Black Drawing Chalks. Pergunte a eles, aonde estão os fãs ou quem consome ou baixa o disco deles? É a base de fãs que está ou dialoga muito com a internet. O cara que não tem o disco, por exemplo, almeja comprar, mas se não tem grana, vai baixar e, como vc disse, propagar isso. Se a banda toca na cidade vizinha, o cara vai dar um jeito de ir e chamar os amigos. e ainda comprar pelo menos um adesivo no final. É o artista que ele tem imenso tesão de ouvir. E assim, o lance vai crescendo, pois a internet possui ferramentas que o aproximam da banda, isto é maluco. Quem sabe utilizar essa plataformade maneira satisfatória, decola.
Veja, é uma pergunta que eu faria para dois caras que manjam muito da cena: os autores dos blogs Pop Up! e Meio Desligado.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Criar página ou um perfil no Facebook?

Como novato na mais hype de todas as mídias sociais, deparei-me com a dúvida-título deste post. A resposta para a questão foi bastante simples, bastou ler este (ótimo) e este outro artigo (11 razões) da web.

Ficou claro que para empresas, empreendimentos e etc o ideal é a criação de uma página, pois basicamente a página não tem limites de adicionar pessoas, vídeos, fotos, além de disponibilizar vários dados sobre o perfil da empresa, como acessos, curtidas, feeds, entre outros.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Quando fizemos a revolução

Em outubro de 2010, vivi um processo de comunicação muito intenso, vivo e original: a cobertura colaborativa do Festival Demo Sul, em Londrina (PR). Ainda tá aqui, latente.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Entrevista sobre comunicação e coberturas colaborativas no campo da cultura

Concedi uma entrevista ao Renato Alves, de Araraquara, para um produto da faculdade sobre coberturas colaborativas e assuntos que envolvem o tema.

O que é o jornalismo cultural colaborativo? Quando começou?
Cara. Não sei muito bem, precisaria fazer uma pesquisa histórica para definir isso. Mas é algo que remete ao fim dos anos 90, quando jornalistas norte-americanos que estavam sob censura nos jornais que trabalhavam, criaram o Centro de Mídia Independente (CMI) para publicar reportagens e artigos; arranjaram muitos colaboradores e a proposta cresceu espalhando-se mundo afora. Outra referência clássica é o portal Oh My News, coreano, que deu muito certo, mas depois precisou recuar, por questões financeiras e foi outro que serviu de modelo para portais colaborativos no Brasil e no mundo. No Brasil, a gente tem referências boas e que funcionam no Overmundo e com a pessoa de Ana Brambila, pesquisadora do tema. Mas, no nosso meio, da cena independente, festivais e etc, é algo extremamente recente, datado de 2007; e desenvolvido com amplitude e técnicas específicas a partir do fim de 2009, como explica este documento. 2010 eu creio que tenha sido um ano bem relevante para as "coberturas colaborativas", pois tivemos esse tipo de manifestação em diversos eventos culturais do país, como Festival Transborda, Festival Demo Sul, Festival Canja, Macondo Circus e por aí vai...

De que forma é útil para os coletivos culturais e para a cultura independente? (Possibilidades, avanços, etc)
É um tipo de produção que se encaixa perfeitamente na maneira como coletivos e a cena independente acontece: de maneira colaborativa e solidária, agindo em bloco. As coberturas colaborativas - que usam inúmeras ferramentas típicas do jornalismo - garantem a cobertura ampla, plural e rica de um evento específico. E geralmente, alguns dos festivais e bandas não conseguem se fazer presente na "grande" mídia, então esse tipo de cobertura garante uma visibilidade independente de qualquer veículo ou jornalista, no melhor estilo "do it together". Justamente porque quem está envolvido, colaborando, trabalha muito estimulado, por curtir a cena, ter um canal pra escoar a produção, sem mediação de editor, sem processos verticais como acontece nas redações, então o resultado em 90% das vezes é alto nível. Uma OBS. Uma das sacadas legais foi que conseguimos fazer, frequentemente, uma ponte entre a universidade e esta cena independente, dando muitas possibilidades de atuação profissional.

Fale sobre a importância das mídias on-line para o jornalismo colaborativo.
Estou pra dizer que não existiria jornalismo colaborativo sem internet e/ou mídias on-line, justamente porque o "colaborativo" só conseguiu emplacar na rede, com a troca veloz de informação e de identificação de ideias entre as pessoas, redes, entidades... Além do fato de mídias como o twitter e os blogs pulverizarem as informações de maneira a topar nas pessoas com muita força e rapidez, sendo portanto, muito eficientes.

O que ele representa para os novos profissionais que surgem no mercado? É uma tendência notável do jornalismo? Seu sucesso se deve a que fator?
Nossa, não sei bem o que representa. Acho que o sucesso se deve por causa da agilidade e poder de conectar pessoas que pensam de maneira semelhante e ser uma ferramenta totalmente livre. Sobre a tendência, não tenho ideia, mas poderia dar um "all in" se esta questão fosse colocada numa mesa de pocker! rs