sábado, 12 de março de 2011

Entrevistando Helena

Fiquei olhando de longe. Ela estava demorando a perceber. Tentei a tática do personagem de A Vida é Bela, mas também sem sucesso. Passou uns dois ou três conversando, falavam sobre uma banda francesa. Perdi a atenção por minutos, pesquei alguma informação, pós-punk, com influências de dub. Voltei o olhar pra escada. Ela devia ter entrado, pois estava com um dos pés sob o primeiro degrau, um copo de cerveja às mãos, um lenço roxo no pescoço e gargalhadas de loucura, com outras 27 pessoas hypes. Metade calçava aqueles tênis coloridos da Rua Augusta.

Fui até lá. Pessoas me esbarrando. Cheiro de fumaça, maior marofa, som, calor, garganta seca. Atravessei a primeira sala, dei seta pra direita, apertei o b para desviar de uma armadilha e segui intacto. Dobrei o corredor. O som aumentou. Then the morning comes. Cantei junto #anos90. No fim do corredor a porta entreaberta, acesa, meia-luz. Parei ao lado, acendi um cigarro com a ilusão de conter ansiedade e aliviar as pontadas no estômago. Saquei a goma verde de mascar e tasquei pra dentro. Hálito fresco. Encostei-me à parede com a bunda e dobrei um dos joelhos grudando a sola do pé direito na parede, tragando firme e batendo sistematicamente as cinzas que mal brotavam daquele L&M black, como quem espera cansado. Eu não estava cansado, apenas precisava esperar. Embora não imaginasse quanto tempo aguardaria. E pior: se era ali mesmo que ela havia entrado. Tentei lembrar de afazeres pra distrair o pensamento e o nervosismo que me escorria nas costas. Conferi se o equipamento estava a postos. Perfeito.

Quando ela saiu, entre me apresentar, cumprimentar com a mão ou tocá-la, não fiz nada, absolutamente nada a não ser olhar, acredita? Segundos depois percebi que estava tudo bem, ela não era ela, entende? 
Então, descobri que precisaria esperar nem sei quanto tempo ainda. Fila de banco. Paciência. Ok, eu precisava, de qualquer maneira, entrevistá-la e garantir o pão, digo, a matéria e os acessos do dia seguinte.

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