sábado, 12 de novembro de 2011

Post #03: de anjo a papai noel



Dobrei a esquina e topei com o cidadão na outra esquina, descamisado, cheio de ginga, chinelo, ponta do cigarro, na sombra, sem norte. Assim que me viu, disparou. Apertei o passo. Calculava que cruzaria com ele no meio do quarteirão, meu destino. Se chegasse primeiro poderia escapar ao toque do gongo. Mas não deu tempo. Já estávamos frente-a-frente. Mantive a distância de segurança. Se vacilasse, acertava-o na capoeira.


- Cara dois-e-quarenta preciso voltar pra minha cidade deus te abeçõa eu to no perrengue sem maldade precisando faz a presa sem ofender o irmão só ida e volta não quero nada dois-e-quarenta ajuda to fudido com todo respeito.

Foi um desabafo descompassado e veloz. Ouvi calado, concordando, sacando a figura que falava acelerado, de olhos arregalados e a pele tensa. Saquei a carteira e puxei a nota mais baixa. Veio outra junto, de cinco. Ele arregalou o olho, por segundos senti medo de algo violento, entreguei-lhe o dinheiro. Segurou firme, amassou o papel, comprimindo na palma da mão com força, respirou fundo e metralhou de novo:


- é o meu presente de natal, você é um anjo - foi indo embora enquanto o cachorro latia - deus te abeçõe irmão e não tira essa barba porque é o meu presente de natal e você é o meu papai noel.
---

Metalinguagem: O céu abençõe a todos vocês como me abençoou nesta madrugada que se passou acima. #Umpostpordia, veja o primeiro e saiba o que se trata.

Nenhum comentário:

Postar um comentário